REFLEXOS
Reflexos!
I
NÃO CONSIGO RESPIRAR!
Ele gritou o quanto pode, mais ninguém o socorreu, curiosos filmaram, mais do corpo caído e da pele negra não se compadeceram, muito menos o sufoco refletido no olhar encontrou no espetador conexão.
Alguém gritou: esta ficando sem ar! Entretanto na suavidade vocal se deixaram ficar entretendo-se com as belas selfies que o requintado celular conseguiu captar.
Como diz o velho ditado palavras valem o que valem: apenas palavras! É o reflexo da famosa sociedade mentecapta que transforma o ilusório no real e o real no ilusório.
O mal já esta feito: um "filme" repetitivo de terror, porque não de horror? próprio desta biopolitica genocida que tem no racismo a sua principal vertente, exibindo sua mais pura crueldade aos considerados "condenados da terra" filhos bastardos deste "Estado suicidário" que delegou aos amigos, favores e privilégios ou melhor dizendo: tudo.
E aos escolhidos para a inimizade, a brutalidade policial, o encarceramento em massa e a uma "morte - em - vida" refletida no genocídio em massa que sofre a população Negra.
II
NÃO CONSIGO RESPIRAR!
Ele tanto gritou na certeza de encontrar alguma correspondência, mesmo ciente da escassa certeza de encontrar em seu algoz benevolência.
Entretanto, quanto mais alto ele gritou, mais o carrasco esganou, e onde o ar circulava mais livremente, aí ele ajoelhou mais abruptamente.
Ele iria asfixia-lo para faze-lo gritar, do mesmo modo que iria asfixia-lo para faze-lo calar. De modo que, apenas pararia de asfixia-lo quando vencido pelo cansaço, ou quando a vítima se deparasse com a sua tão desejada amiga de longa data: À morte!
É o reflexo da dita necropolitica! Que faz da morte uma aliada e da vida uma utopia.
III
Mas agora que a voz se calou, rangemos os dentes, afirmando que nada voltará como antes, postamos Black lives methers, ainda que nada saibamos sobre seu significado, da noite para o dia nos tornamos anti-racistas sem contudo desfazer-nos dos privilégios.É o reflexo desta sociedade não acostumada a dar flores em vida, é a famosa "sociedade do espetáculo".
Agora, silêncio! É o silêncio de uma voz que ecoa mais alto que o trovão, em meio a noite escura de um temporal,
É o silêncio, que transborda a alma levando-nos a enchergar o sistema anormal.
É um silêncio qual pólvora, que impulsiona todo um povo a sacudir sua letargia para a consciência de revolta, sabedores de que não se pode esperar do opressor libertação. É o reflexo de um caminho sem volta.
IV
Sim, silêncio! silênciou-se seu corpo mas não sua voz, alguns até diriam: "silênciou-se o revolucionário mas não a revolução". Pois, ainda agora ecoa o seu "I can't breathe", inquietando os corações, e, ensendiando as massas calejadas para a reivindicação da efetiva mudança desse racismo extrutural e extruturante que reflete no aparato institucional do Estado atos repugnantes de covardia!
Sua fatal partida, foi o estopim do absurdo desse sistema que nos relega a não existência, sistema este que nos humilha, sufoca, nos mata. É o reflexo de uma velha política da violência.
Seu grito por socorro ecoa para nós tal e qual ecoa o grito do profeta maior negro, Luther King Jr: uma revolta profética!
Sim, sabemos que ainda somos juniores na arte de guerrear contra este sistema que tem à seu favor todo aparato institucional genocída, esboçando o reflexo de sua graduação na arte da guerra.
Porém, é com o profeta Bob Marley que aprendemos que quanto mais dura a luta mais doce a vitória.
Já começamos à vislumbrar o cheiro da vitória, com o Cristo sofredor aprendemos que o amor joga fora o medo, e é por meio dele que nos movemos denunciando o mal e anunciando uma outra forma de viver. É o reflexo inevitável do reino!
Joelhos estão se dobrando, abraços estão fluindo, lágrimas estão sendo derramadas por aqueles que outrora estenderiam o cassete ao invés do reconhecimento de sua brutalidade. É o reflexo de um cansaço na brutalidade unilateral.
George Floyd, quando me lembrar do "I have a dream" me lembrarei também do "I can't breathe", pois até agora tudo que temos tido são pesadelos, e nosso sonho tem sido impedido por um sistema que não nos deixa respirar. É o reflexo do Estado suicidário e racista!
Nos lançando para novos ares e na força antirracista do espírito, buscaremos um mundo sonhado e profetizado por Luther King no qual os negros vislumbrarão novamente sua realeza roubada, vivendo sem temor em um ambiente em que se pode "respirar" livremente: onde o Amor, a justiça e a verdade se encontram se beijam e se abraçam.
By Emiliano João
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