É PARA NOS PREOCUPAR OU GRITAR DE JÚBILO?
Tal ato é parte de sua digressão pelos países europeus e asiáticos com intuito de estabelecer novas cooperações partidárias. É dentro deste quadro que, o Presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, optou por fazer uma visita histórica ao Muro das Lamentações, um local sagrado e de grande relevância religiosa.
Segundo os relatos que nos chegam, após uma breve oração, ACJ teria depositado, por meio de um pedaço de papel, um pedido de oração para os angolanos em que constava a seguinte prece: "Que Deus proteja Angola e proporcione Paz e Felicidade para todas as famílias angolanas". Com a publicação de tal gesto, obviamente, as reações não tardariam em aparecer: Desde reações do governo no poder (segundo informações teria telefonado aos seus homólogos, os então presidentes de Portugal e de Israel, a fim de aparar qualquer fumaça futura), à reações da sociedade civil.
Os crentes (cristãos), como sempre, celebraram, os humoristas satirizaram, os bajús do governo no poder criticaram. No entanto, tudo isso faz parte do jogo político. E não é o que nos levou a escrita desta pequena reflexão. Já que esta é uma tradição que remonta á vários séculos, onde vê-se devotos ou não devotos, pessoas comuns ou presidentes da República e altos dignitários internacionais visitando o Muro da lamentações-ocidental, fazendo orações no local e depositando nas reentrâncias das pedras, pedidos escritos em papel.
Distarte, nossa maior preocupação reside no tipo de mensagem que se pretende passar. Sobretudo, para aquele nicho no qual faço parte: o Nicho cristão. Este é um nicho da sociedade que, diante da conjuntura política atual, tem ganhado cada vez mais extrema relevância, ou melhor, tem sido determiante para o desenrolar do jogo político contemporanêo. E o contexto angolano não é diferente, na verdade a religião sempre jogou um papel crucial na política angolana, quer na Angola “pré” colonial, colonial, quanto na “pós” colonial (SCHUBERT 2000). Fazendo com que o romancista Pepetela (2013) chegasse afirmar, em seu romance Mayombe, que neste universo a religião se encontra presente em tudo, não havendo diferença entre religião e política, comitê partidário e igreja, ou mesmo entre o sacristão e o político.
É tendo em conta esta premissa que o retrato de ACJ, ao mesmo tempo que nos possa causar algum júbilo - enquanto cristãos e críticos da situação atual angolana (político e socioeconômico) e por tanto a favor de uma alternância política – nos causa, também, uma certa preocupação, enquanto sujeitos circunscritos num cenário global em que observamos cada vez mais a proeminência de um ultraconcervadorismo fundamentado, embasado e apoiado igualmente pelo mesmo nicho: Cristãos! Isto porque, enquanto teólogos, temos percebido que desta junção tem surgido diversas formas de banalização da vida (sobretudo, daqueles não pertecentes a este segmento religioso) com a conivência dos profetas do palácio. E como juristas temos observado, desta junção, uma promiscuidade institucional que desrespeita e banalisa o pacto da lascidade estatal.
Isto posto, num país em que o neopentecostalismo e as suas mais diversas teologias da prosperidade vão ganhando cada vez mais terreno - havendo já iniciativas e propostas de partidos evangélicos - tal ato, do nosso futuro presidente - se assim Deus e os angolanos o quiserem - não deve apenas ser aclamado, passado acriticamente, mas analisado sob o crivo crítico. É para nos preocupar ou gritar de júbilo?
By Emiliano Jamba
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