HOJE FESTEJAREMOS, E AMANHÃ CHORAREMOS!

Hoje festejaremos, e amanhã choraremos!
hoje não queremos lamúrias,
não queremos choradeiras ,
queremos apenas esperanças, ainda que utópicas.
Hoje, não falarei da criança predestinada a viver a margem,
ou negada ao seu direito de existência, ou imagem.
devido as escassas assistências medicamentosas,
devido aos saneamentos básicos precários,
que tornam o futuro como uma miragem,

Hoje não falarei do dilema do operário,
que de tanta labuta,
não enxerga em seu suor nem trabalho,
uma Angola melhor para seus filhos,

Hoje não falarei daquele pai,
que de tanto nadar contra correnteza,
começa a acreditar que é um filho da luta,
e como o azar não vem só,
seu mundo se definha
quando observa que sua filhinha
não suportou o sistema degradante e,
se transformou em uma prostituta.
E seu filhinho, de tanto driblar os problemas do dia à dia,
acabou driblando inclusive sua sanidade, caindo no copo, no roubo ou na loucura.

Hoje festejaremos, e amanhã choraremos!
Hoje não falarei dos poucos intelectuais que contra tudo e contra todos
a base de muito esforço, empenho, se submetem a uma vida cheia de contradições
pois percebem que para singrar na nossa amada Angola e obter boas condições,
ou você se transforma em uma atriz ou em uma meretriz

Hoje não falarei daqueles mais velhos que não conseguem estancar a cicatriz
quando percebem que não há esperança na força motriz,
pois o sistema é mais do que uma montanha russa,
é um ciclo interminável no qual seus sonhos se esbarraram na troca da cor do colonizador, perpetuando deste modo a úlcera;

Hoje não falarei do povo sem voz,
daqueles sem eira nem beira,
dos silenciados ou desaparecidos, 
das mortes em portas de hospitais,
das justiças injustas,
não falarei daqueles dormindo em chão árido ou em esteiras,
das autocracias, das oligarquias,
dos partidarismo ou dos nepotismos,
das demagogias,    
dos autoritarismos, e outros ismos mais.

Bem, hoje festejaremos, e amanhã choraremos!
Hoje festejaremos, mesmo que não haja motivos para que o façamos,
afinal, é próprio de nossa cultura,
rir das tristezas,
driblar as incertezas,
e festejar! Festejar inclusive até diante da perda de um ente querido.

Hoje festejaremos, e amanhã choraremos!
Enquanto a tão sonhada independência genuína não chega,
nos contentaremos com a presente,
sabendo que não iremos construir em um só dia o país,
Todavia, demostraremos que não vivemos as cegas
pois o povo está cansado de tantas chagas,
assim, nos empenharemos a fim de que a espera não seja infindável.
Nem que as futuras gerações angolanas tenham uma vida lastimável.
Que possam olhar para a nossa geração tal igual olhamos para a de nossos pais,
imbuídos de um Espírito crítico livrando-se dos chicotes e do opressor,
dando um exemplo para que ninguém se constitue novamente em nosso “Senhor”,
Já que a cor do opressor tem mudado, mas nem tanto suas práticas,
Em fim, resta-nos apenas dizer: Parabéns Angola, pois apesar dos apesar este ainda é o país. A angola independente sonhada pelos nossos pais!  

                                                                                                                                   By Emiliano Jamba

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