ÁFRICA: O RENASCER DAS CINZAS
Em uma época em
que muito se tem abordado sobre a autonomia e independência não só dos
africanos como também do próprio continente africano, em face ao imperialismo
ocidental imposto sobre este continente, surge a necessidade dos intelectuais
africanos começarem a colocar mão na massa, e "fósforos" para incendiarem
e iluminarem os tantos de sujeitos pensantes que este vasto continente tem.
Talvez a resposta
esteja bem mais perto do que parece, talvez esteja contido nos contos africanos
passados pelos sábios de geração a geração, talvez esteja batendo a porta todos
os dias, desdenhando de nossa cegueira maquinada pelo orgulho e sufocada pelas
armadilhas epistemológicas ocidentais com intuito de dividir para colonizar ou
seria neocolonizar? Resta-nos apenas estar atento a ela.
Tal resposta se
encontra no voltar aos fundamentos caraterísticos do próprio continente. Este
mesmo fundamento se caracterizará no vetor, ou embrião do renascer do
continente africano bem como dos seus filhos que a tanto tempo lutam por suas
autonomias e pelo reconhecimento de autonomia de sua mãe África.
Em que consiste
este fundamento? Como africano que sou permita-me um pouco de história: É de
conhecimento geral, inclusive verdade cientifica já consolidada que a África é
o berço da humanidade, pois nela surge, com toda probabilidade o aparecimento
do primeiro ser humano (homo herectus), antes de imigrar para a Europa. Isto
numa época que não existia vida possível na Europa, pois o norte do planeta
estava coberto de calotas glaciais, fazendo com que não exista vestígios humanos
em tempos remotos neste continente. Porém já havia vida no continente africano.
Não se pode esquecer ainda, ainda que a primeira civilização da antiguidade se
encontra na África, outro realce interessante são as primeiras pinturas
rupestres também se encontram na África demostrando que o africano (a) é um ser
intelligens (pensante). Muitas outras coisas poderiam ser ditas, porém não irei
me estender mais uma vez que os feitos deste continente falam por si. Por mais que
tentam oculta-lo obscurece-lo dá sempre um jeito de vir a aurora do dia. Como é
o caso agora das descobertas feitas em Blombos que trouxeram uma virada
profunda na atual visão da história da arte e da evolução cultural durante o
paleolítico.
Pela escravatura
e a consequente colonização África se torna meio de fazer prosperar a Europa
rumo a industrialização. O sistema colonial substitui deste modo os sistemas autóctones.
Os africanos são desta feita alienados substituídos uns com os outros "a África mesma foi tomada em punho,
subdividida desmembrada e lhe foi imposta este papel de fornecer material prima.
Este pacto colonial não obstante as independências politicas perduram até hoje
se se pega a balança comercial dos países africanos, ver-se-a que de 60 aos 80%
o valor das exportações é constituído por matérias primas ” (MIGUEL, África
uma visão global. p.33)
De 1960 – 1975 conquistam-se
as independências dos países africanos, independências essas que serrariam uma
pagina do colonialismo, paginas essas que foram fechadas com muita pressa e mal.
Colhendo hoje tais consequências, pois não se estipulou nem se debateu as consequências
psicológicas, antropológica, socioculturais dos colonizados. Abrigados no guarda-chuvas
do "esquecimento do passado". Todavia já diz um velho proverbio, quem
"se esquece do seu passado acaba por revive-lo”. Pois bem "o passado do colonialismo em
África é, hoje presente, numa certa África em veste de neocolonialismo com um capitalismo
selvagem e relativo sistema de corrupção” (MIGUEL, África uma visão global.
p.34)
Como sair desta
encruzilhada? Primeiramente lembrar e aprender com nossa história, pois ela é
mestre das nações. Buscar por nossas tradições e referenciais, por nossos
sistemas de valores bem como nossa maneira de compressão de mundo. É
precisamente neste ponto que acharemos a ideia de pessoa do africano, ou seja,
a ideia comunitária de estar no mundo. Ultrapassada? De forma alguma, pois só
desta forma teremos uma África unida e com capacidade de fazer frente as pressões
internacionais bem como a proporcionar um desenvolvimento gradual e integral do
próprio continente, pois já é sabido que casa dividida não subsiste de maneira
alguma.
Desta forma
concordo com Miguel quando diz: " Á
autonomia da África, a libertação e a independência ou será panafricana ou não
será. Um Estado africano digno deste nome deveria ser um Estado federal; sem
duvida, a partir dos Estados atuais"(MIGUEL, África uma visão global.
p.34). Pois todas as tentativas feitas solitariamente acabaram em falência.
Imagina uma
África que deixa o seu "estado Letárgico" e entra na "idade industrial".
O Saara o Nilo e o transsahariano constituírem centro e zona de ligação entre a
África setentrional, ocidental e oriental; Á Nigéria exercendo a função de ligação
entre o ocidente e o centro, o denominando copperbelt do shaba e da zâmbia como
fulcro entre a África central, oriental e meridional (cf. Miguel p.35). Pois
bem foi este o sonho do historiador Burquinabe, Ki-Zerbo, isto em 1977 parafraseando
o "I have dream" de Luther King Jr.
Este historiador
africano almejava a Unidade africana, pensamento esse apoiado por vários intelectuais
africanos pois a Unidade é a condição primordial para o progresso, se a nova África
quiser ser sujeito e não mero objeto da História.
“E se me
pedires que eu indique com um critério prioritário os dois fatores chaves deste
progresso entre os elementos que dependem exclusivamente dos africanos, indicaria
a formação dos homens e a Unidade. E se me pedires que eu escolha entre os dois
qual é o mais decisivo, retomaria de bom grado as palavras do sábio, “dai-me
uma alavanca e eu sublevarei o mundo”, traduzindo-a em: "dai-nos a unidade
e faremos decolar a
África"". (Ki – Zerbo apud MIGUEL,
África uma visão global. pp.35-36).
Desta feita
conclui-se que a África poderá renascer das cinzas usando uma ferramenta bastante
conhecida por ela, a "Unidade na diversidade" (no viver comunitário)
e na formação do individuo. Todavia entre os dois como Ki - Zerbo bem
argumentou prevalece a Unidade.
(Por Emiliano Jamba)
(Por Emiliano Jamba)
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