QUE HORAS SÃO?

Existe em Angola uma brincadeira que pelo visto a elite angolana está levando para a realidade:
"Que horas são? Horas para comprar seu relógio".
Era essa a brincadeira que rondava na infância.
Pelo visto alguém comprou a ideia ou melhor o relógio. Cansou-se de apenas ouvir e decidiu materializar tal brincadeira.
Um dos riquinhos angolanos, "filhinho do papai" acabou de protagonizar mais um episódio do eterno "serial killer"angolano. Decidiu ir as compras e desembolsar nada mais nada menos que 500 mil Euros.  Com tal façanha se tornou capa de jornais e assuntos midiáticos nas varias redes sociais. A indignação, vergonha e raiva era comum a todos.   
E dai? Deves ter perguntado. O que isso tem de errado?
Bem, se fosse algum famoso, jogador, ator ou atriz, etc ...talvez não seria motivo de tanto desdém, não teria tamanha repercussão. Contudo a explicação é simples.   
Trata-se de Danilo Dos Santos, de 25 anos, um dos filhos do presidente angolano, que assim como tantos "filhinhos de papais angolanos" decidiu tornar em realidade a brincadeira do "esbanjamento".
Razão da compra? Alega-se ter sido em um leilão para ajudar uma instituição que luta contra o HIV/AIDs nos EUA. Se o motivo a principio parece ser nobre, merecendo todo elogio do mundo, o tiro acabou indo pela culatra. Já que, atitudes como esta é que fazem Angola não sair do ranking dos países com pior índice de mortalidade, pobreza, educação etc. E o povo agora crescido está cansado da brincadeira de milhões.
Danilo apenas se constitui no cúmulo do absurdo para os angolanos, em uma semana que ficou evidente que dos políticos angolanos nada se pode esperar, uma vez que enquanto o povo sofre com a alta inflação da economia, com as dificuldades de obtenção de divisas, com a falta de emprego aos jovens, falta de saneamento básico etc. O parlamento que a principio debateriam como resolver a instabilidade económica que se instaurou no país, talvez aproveitando da saída emergencial a princípio sem nenhuma explicação ao povo, do chefe do Estado angolano, estão mais preocupados em sair as comprar, e mudar o guarda-roupa ou melhor, a "garagem" a fim de poderem comprar carros dos mais luxuosos em um país que a desigualdade social cada vez mais só tende aumentar: os ricos que são a minoria cada vez mais ricos e os pobres que são a maioria cada vez mais pobres. Caso para dizer que "Quando o gato está longe, os ratos fazem a festa." E assim caminha "o país do pai banana" palavra de consolo diante de situações do género. 
Que horas são?
Está na hora do povo acordar e lembrar o que nossa carta magna “constituição"diz: "todo o poder emana do povo". E desta feita precisam exercer efetivamente tal poder.
Está na hora de dizer basta! Dos anos de opressão, desumanização, e do viver na obscuridade.   
Está na hora de dizer fora a todos ladroes, corruptos, assassinos, tiranos.
Está na hora de lutar por uma angola melhor, pautada no amor, fraternidade, solidariedade, compaixão, alteridade, etc...Talvez a nossa "Angola do amanhã" sonhada por teta Lando.
Está na hora de olharmos menos para o nosso umbigo e mais para o nosso próximo. Pois só assim acabaremos com o nepotismo e com o medo de sermos emudecidos.
Está na hora de distribuirmos mais gestos de generosidade e menos gestos de arrogâncias, orgulhos, avarezas etc.
Em suma está na hora de recuperarmos o que é nosso por direito: nossa humanidade, dignidade, respeito. Está na hora de resgatarmos nosso país das mãos dos corruptores antes que terminem de vender a quem dá mais.
Esta na hora de mudança, contudo qualquer mudança em Angola terá de partir de nós mesmos angolanos, filhos da nossa pátria amada e unida isto é de Cabinda ao Cunene um só povo e uma só nação:
“O que o ditador tem a mais é que vocês são os meios que vocês lhe fornecem para vos destruírem [...]. Como poderia ter tantas mãos para feri-los, se não fosse as suas? [...] teria ele algum poder sobre vocês, se não fosse por meio de vocês mesmos? [...]. Que mal poderia ele lhes fazer, se vocês não acobertassem o ladrão que os rouba, se não fossem cúmplices do assassino que os mata e se não fossem traidores de si mesmos?”[...] “Vocês podem livrar-se [da ditadura]. [...]. Mesmo sem tentar fazê-lo, apenas mostrando este desejo. Decidam-se a não mais serem subservientes e serão livres. Não quero que o ataquem, nem que o façam desequilibrar-se: deixem de apoia-lo e vão velo como uma gigantesca estátua que, quando retirado seu pedestal, sucumbe com o próprio peso, fazendo-se em pedaços.” - Etienne de La Boetie, Filósofo Francês, In: Discurso da Servidão Voluntária. (2006)
A mudança passa por ver a realidade, tirar as vendas dos olhos, após disso estar-se-á preparados para julgar. isto é, saber o que de bom se deve conservar e o que de mau se deve erradicar e por fim agir. uma vez que qualquer julgamento de valor sem ação é mera falácia. Os praticantes da corrupção (desvio de prioridades) precisam entender que "...nada há encoberto, que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser conhecido" Lc 12:2. Isto implica em uma construção de um novo ser humano. Mulheres e homens angolano (a)s verdadeiramente livres de qualquer artimanha de "poderosos chefões". Uma reeducação mental e intelectual que afrontaria os "demónios" dos poderosos e devolveria liberdade aos angolanos.
Tal liberdade só se efetiva com o conhecimento: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8:32. Tal liberdade se configura em uma via de mãos duplas. No qual não só o oprimido será livre, mais também o opressor. conforme afirma Paulo Freire: 
A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser humano, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde a lutar contra quem os fez menos.  E esta luta somente tem sentido quando o oprimido, ao buscar recuperar sua humanidade, que é uma forma de cria-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. E aí está a grande tarefa humana e histórica dos oprimidos - Libertar-se a si e aos opressores.  (1987, p.20)   
Assim, a liberdade do oprimido, implicará também na Liberdade do opressor. Pois, "Estes que oprimem, exploram e violentam, em razão do seu poder, não podem ter, este poder, a força de liberdade dos oprimidos nem de si mesmo. Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar ambos" (Freire p.20). Assim fiquemos atentos nestas eleições pois pode ser um estopim para mudanças e eles sabem disto e virão com barganhas, uma vez inertes na sua ação, os opressores procurarão dar falsa esperança aos oprimidos a fim de amenizar seus intentos pela liberdade. Ao que Paulo Freire denomina como "Generosidade falsa", que consiste na permanência da ordem social injusta, pois é ela que "nutre a morte do desalento e da miséria" p.20. Desta feita a verdadeira generosidade consiste em:
Lutar para que desapareçam as razoes que alimentam o falso amor. A falsa caridade, da qual decorre a mão estendida do "demitido da vida" medroso e inseguro, esmagado e vencido. Mão estendida e tremula dos esfarrapados do mundo, dos "condenados da terra". A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de suplicas. Suplicas de humildade a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo. Este ensinamento e este aprendizado tem de partir, porém, "dos condenados da terra", dos oprimidos, dos esfarrapados do mundo e dos que com ele realmente se solidarizem. Lutando pela restauração de sua humanidade estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade. (FREIRE,1987, p.20)    
Tal mudança envolverá a participação de todos, quer dos cidadãos residentes em Angola inconformados com tal situação quer dos residentes na diáspora interessados com a construção de um lugar melhor para se viver. Nossos irmãos angolanos, nossos filhos e os filhos dos nossos filhos merecem um espaço aonde a vida se torne possível e onde realmente flua abundantemente. "Eu tenho um sonho" onde os meus filhos e os filhos dos meus filhos não necessitarão exilar-se no exterior fugindo de nossa pátria amada para o exterior procurando melhor condição de vida (saúde, educação, qualidade de vida etc). Neste meu sonho eles dizem o que pensam sem medo de irem para o caixão ou para prisão. Neste meu sonho eles competem de igual para igual as oportunidades de trabalho sem o receio do "padrinho na cozinha" ou a falta do QI (quem indica). Nesse meu sonho a famosa "gasosa" (corrupção) será efetivamente crime, quer para "reis ou plebeus".  Enfim, quando chegar esse dia, não verei mais nossa pátria amada (Angola) derramando lagrimas pelos seus filhos que morrem a torto e a direita por motivos banais. Não ouvirei mais os gritos das mães dizendo: "não é justo que os pais enterrem seus filhos"; não verei mais os aglomerados em hospitais, e consequentemente em cemitérios. E então quando enfim chegar esse dia, dançarei de alegria, como bom africano que sou, saltarei de emoção, e direi: Valeu a pena ter trilhado o caminho do amor, da verdade, do bem, da liberdade. Pois Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; não apenas a mim mas também a todos os que amarem a Deus e a sua vinda (2 Timóteo 4:7,8).
Que horas são? falta escassos segundos para uma mudança efetiva no quadro político angolano e o consequente sumiço de ações arbitrárias de nossos entes públicos!     



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