MINHA ANEDONIA

Ainda sobre ontem tenho muito a dizer, oh vida

Foi amargo o cálice que me deste a beber
Foi o mais transbordante que alguma vez carreguei. 
Suportei o peso das inquietações e em passos estáticos meus pés tive que conduzir para uma trilha sem pisadas até então.

Lavei meu rosto com o precioso líquido que meus olhos me tinham a oferecer mesmo sabendo que a sujeira estava nas lembranças que aquela triste história deixou.

Ainda sobre ontem tenho questões a fazer.
Se sobre a vida a única certeza é a morte, questiono aonde ela estava quando desesperadamente gritei por ela? absorvendo meus sentidos ao resumir minha existência em uma ANEDONIA?
Esperei que em suas garras adormecesse a minha lucidez, deixando em meus ouvidos a última batida do meu coração embalando minha alma. Mas ela de mim seus olhos desviou.

Tomei dozes de desespero ao perceber que meu mundo daltônico tinha agora cores e que eu as podia perceber, vi meus medos serem pintados de coragem.
Ontem senti em minhas entranhas o germinar das zombarias das tidas certezas  que eu criei.

Vi o prazer beijar a dor, sentei e contemplei as promessas num romance com a traição.

Para provares o quão rude ainda consegues ser, humilhaste o amor convidando-o para este lugar onde a esperança sem pudor foi despida da paciência que com muita bondade e mansidão escolheu trajar.

E hoje tu questionas-me oh vida, porquê meus olhos não reconhecem o brilho  de um sonho e em minha cabeça a coroa da confiança não se assenta?

Ouça o silêncio das vozes que ontem entoaste para mim, e saberás por que meu corpo dança parado enquanto entoas o que ninguém pode ouvir.

TELMA ALMEIDA

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