DIREITO À MORTE!

Oh morte amada minha!
que combinas a suavidade com a brutalidade,
que preservas os brutamontes
e levas a montes os mansos e pacificadores na calada da noite,
que fazes pacto com os meus executores
sendo que é meu futuro que é projetado ao extermínio na mais sombria noite
me fazendo desconfiar que tudo o que possuo é o direito a morte.

Oh morte seletiva!
Que te fazes de amiga daqueles que se dizem amigo do povo, 
com o intuído de levar-nos ao domínio.
Que instauras um clima de horror e terror apenas para uma camada da sociedade:
De preferência daqueles que combinam os três Ps: povos, pobres e preto(a)s. 
E quando me rebelo andando na contramão de todo sistema exterminador, institucionalizado, e corrupto isto é, de forma honesta, pacífica, abrindo mão da violência para que não me torne igual ao que mais repudio, contudo, sem jamais se render:
denunciando
a violência generalizada,
o medo propagado,
o caos social instaurado,
o genocídio classista, sexista e racista,
o pensamento universal,
imperial deformador, engessador e conformador.
É precisamente aí que me encaras de frente dando-me a entender que toda minha luta é fadada ao direito a morte.

Oh morte hipócrita!
Me fazes acreditar que algum dia abraçarás os maus,
E deste modo me engajo na denuncia dos mesmos
Boto meu foco no manuseamento dos livros clássicos a respeito da dignidade humana:
Começando pela bíblia no seu imperativo divino do "amor ao próximo".
Na constituição americana, mexicana e alemã etc.
Na declaração dos direitos do homem e do cidadão
Na carta universal dos direitos humanos,
para descobrir que somos relegados a condição de não humanos, não cidadãos e portanto não amados.
Transito entre as brechas da lei, nos acordos pactuados, nas belas utopias da liberdade, fraternidade e igualdade, encho meu coração de ousadia, alegria e emoção tudo que me dás em troca é levar o meu corpo ao caixão? E quando pergunto pelos meus direitos conferidos na constituição brasileira no seu artigo 5º ou na constituição angolana no seu artigo 15º tudo que tens a me dar é o direito a morte?

Oh morte orquestrada, fracassada e ilusória!
Não te cansas de aprontar das suas?
Olho para a história e vejo um legado daqueles que souberam te enfrentar
com a marca de vítima não conseguiste legitimar nem marcar,
antes pelo contrário em suas mortes acharam vida
eram pais, filho(a)s, irmão (a)s parentes etc.
Jamais desejaram ser mártires assim dizia Luther king Jr. 
Contudo, jamais poderiam fechar os olhos para aqueles que se encontravam a margem.
Quantas vidas mais são necessárias tirar para te convenceres que podes calar a voz do revolucionário mas jamais parar a revolução? A voz do poeta mas jamais o escoamento de seus poemas? A vida do preto mas jamais o seu legado?
Sei que vais novamente relegar-me ao direito a morte, todavia saiba que o sangue dos inocentes não foi derramado em vão seus corpos falam, suas vozes têm subido ao ouvido de Deus. E em breve, muito breve, todo rumo desta história será mudado.

E aos heróis que a cada dia dão a cara a tapa, enfrentando as grandes provações e tribulações diárias, as prisões, represálias e brutalidades policiais: 
Não cedam! não recuem! não se conformem! Por mais insignificante que a causa pareça, por mais desgastante que seja, parecendo um passo para frente e dois para trás, não congelem a fé da redenção, pois um dia haverá satisfação em tudo quanto temos feito: quando a justiça rolar como água e a retidão correr como um rio poderoso.
Não nos deixemos ficar no lamaçal do desespero, gritemos e anunciemos o oásis de liberdade e justiça que está para chegar.
Anunciemos que "um dia cada vale será elevado, cada colina e montanha será nivelada, os lugares acidentados serão aplainados, os lugares tortos serão endireitados, a glória do Senhor será revelada e todos os seres a enxergarão juntos". (Isaias 40:4)

Essa é nossa esperança. Essa é nossa fé diante dos acontecimentos recentes quer no rio com Marielle Franco, como por toda parte do mundo a aqueles que clamam por justiça. "Com esta fé poderemos talhar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar os acordes dissonantes de nossa nação numa bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé podemos trabalhar juntos, orar juntos, lutar juntos, ir à cadeia juntos, defender a liberdade juntos, conscientes de que seremos livres um dia" (Luther King Jr).

Emiliano Jamba

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