Licença para Utopia


São 41 anos de liberdade, liberdade esta, manchada pelo egoísmo dos filhos meus durante um período de 27 anos!
Hoje, passado esse período, e completando mais um ano, chamam-me de amor e me perguntam:
O que Eu posso fazer por ti meu amor?
Como chamar-me de amor se em teus feitos não me reconheces como tal, uma vez que Tú preferes ser o Tal,
Como chamar-me de amor, se pelo encanto de outras te prendeste e de meus filhos te esqueceste, isto após teres me usado, extorquido, explorado!
Como chama-me de amor se nem para defender-me te ergues!
Como chamar-me de amor se na primeira ocasião que surgiu te foste e para trás não olhaste muito menos voltaste!
Como chamar-me de amor se tudo o que fazes é promoveres-te, e para a dor dos meus não te importaste, e a um preço miserável vendeste-te!
Outro, é uma palavra que não existe em seu vocabulário!
Partilha, discurso lindo demais para seu egocentrismo, um delírio dos otários!
Amor? Palavra forte demais para um narcisista, e, mas...  
Quer saber o que podes fazer por mim?
Aprenda amar os filhos meus,
Aprenda a lutar pelos meus
Aprenda a respeitar as irmãs/irmãos teus,
Aprenda a dialogar, mas do que brigar,
A dar as mãos, mas do que cerrar, a enxergar mas do que cegar!
Ande pelo caminho da solidariedade, da irmandade, da comunhão da compaixão!
Numa comum Unidade onde seres diferentes, relembrando seus entes, visam conservar seus queridos, hoje esquecidos, oprimidos, marginalizados, excluídos, empobrecidos por seus opressores, ditadores, e detratores,  filhos traidores. Um dia impulsionados pelo mesmo amor que hoje te peço, fizeram o possível e o impossível, doando seu suor, seu sangue, suas vidas, para resgatar-me das mãos de uma outra espécie que se achavam dono de tudo e todos. Espécies estas, forasteiras, mercenárias que por suas soberbas e arrogâncias tentaram castrar minha língua, minha ginga, minha alegria, minha espontaneidade, minha cultura, minha essência existencial ou melhor, tentaram calar-me, afim de posteriormente matar-me, transformar-me em uma outra que ao seus ver seria melhor do que Eu!
Numa primeira fase, mascarando seus reais motivos ludibriaram os meus filhos, e acharam em outros filhos gananciosos forma de assimilar-me para depois, separem-me dos caçulas (menos favorecidos, desprotegidos), enviados a contra vontade para além do oceano, tratados como cargas, mero objetos, a escoria da humanidade!
Por este motivo eles gritam “ Eu sou negra, e bela filhas de Jerusalém...não me olhem assim, pela minha tonalidade de pele, os filhos de minha mãe tiveram aversão, obrigaram-me a trabalhar nas suas vinhas, a minha própria vinha não pude cuidar” (cântico dos cânticos 1:5,6), em outras palavras colocaram-me em condição de escrava, abastecendo seus filhos enquanto que meus próprios filhos não pude abastecer nem guardar. “ A noiva Negra do <<cântico dos cânticos>> canta a sua forma de viver em toda as suas formas humanas, mas também clama a sua angustia quando perde o seu noivo. Parece que nos anos presentes, a face radiante de alegria da noiva africana se transformou no rosto cheio de tristeza da Mãe Negra, que chora por causa dos seus filhos que definham na miséria – vitimas da injustiça, da exploração e da opressão – e se lamenta por causa daqueles que morreram de fome devido a guerras fratricidas” (Baur, p.5) todavia o testemunho do cântico encerra exaltando a fé inabalável da noiva, fé esta permeada pelo amor: << mas forte que a morte é o amor>> (Cânticos dos Cânticos 8:6).
Amor este que permite que o sonho de um país totalmente livre,  (de corrupções, intolerância, desigualdade, nepotísmos etc), continue, a esperança avance a fé cresça.
Utópico? Talvez , todavia não vejo outra via.
Sendo assim, uma coisa eu peço:
Licença para minhas utópicas eu suplico e careço, uma vez que, sem ela eu pereço.
Do contrário como seria eu uma boa mãe se não tenho eu para os meus filhos pão?
Como seria eu uma boa mãe se não tenho eu para os meus filhos preocupação?
Como seria eu uma boa mãe se não tenho eu para os meus filhos, educação?
Acredito que um dia poderei ver meus filhos nascendo, crescendo,vivendo, sem vergonha do ontem, nem medo do hoje ou sonho no amanhã e usufruindo da verdadeira paz!

Aí sim, poderei me sentir realizada ja que poderei dizer que eles são verdadeiramente livres e independentes, fazendo o uso correto de suas humanidade e pronta para ser amada, enquanto isso sou uma mera sonhadora, lutadora e batalhadora!

 (Emiliano Jamba)

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