A PORTA

Levantou-se e em direção à porta meus desejos caminhavam, fitava seus olhos em mim, e fugaz à porta segurava.
Implorei, e derramei todo meu ser em súplicas, foram inúteis as minhas petições. 

Assisti a matança de tudo o que um dia me fez viver. O meu colo se fez matadouro e aos ares iam-se juntas e medula, no chão, apenas sangue do que já foi ternura.

Bateu a porta com a força de Zeus, sem se importar de quebrar o que era seu. Apavorei-me com a frieza do que já me aqueceu, pois sua brandura há muito já morreu.

Conservei-me ao silêncio e tranquilamente me sentei, e aceitei que aquela guerra a outro guerreiro pertencia.
Inesperadamente, vi repousar seus braços em mim, envergonhado com tamanha sujeira recusei seu consolo e muito menos seu colo.

Sua aparência era formidável e desviava atenção da minha dor, vaidade embainhada no odor, não contaminava sua pureza. 

Contei-lhe do ocorrido, e inocentei-me do que havia cometido, seu jeito seguro conhecia bem quem culpa tem.
Não desperdicei o tempo, mesmo me indagando como teria ele entrado, depois que o assombro à porta trancou.

Agarrei-lhe pela bondade, e dele quis a chave arrancar, e para atrás do que já se foi voltar. No vazio do que tanto procurava, achei sua voz serena pedindo que abrisse os olhos.

A fúria sacudiu-me os ânimos e no desânimo de quem tinha a esperança de soltura, cano à baixo fez se dissolver. 
Não se assustou com o tremor do meu fel, mas, docilmente pediu-me uma vez mais aos olhos abrir.

Com temperança, como quem nada tem a perder, mesmo querendo meus insultos soltar, no sarcasmo da descrença tentei abrir os olhos que sempre achei tê-los atentos.

Minhas pálpebras batiam-se intrigado, vi-me sego numa história que do lado de fora eu estava. 
Eram meus medos que enjaulados agarravam-se as grades do que já não existia, e encurtavam minhas canelas.

Entusiasmada, quis me envolver num abraço perdoador, meu herói ao meu lado já não se fazia.
Conhecer a liberdade que sempre me libertou e livrar-me do que nunca me prendeu, foi o milagre de quem reviveu.

By Telma Almeida

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