PARA UMA TEOLOGIA AFRICANA

Vivemos em uma sociedade global e plural onde o grande desafio é elaborar uma leitura teológica multicultural e intelectual da Bíblia.
Desta forma o primeiro ato do fazer teológico é o compromisso com a realidade. Isto envolve uma ruptura radical epistemológica e uma "hermenêutica da suspeita" dando espaço a práxis teológica.
É neste sentido que surgiram na década de 60 e 70 vários debates tendo em vista a forma do Africano de se autocompreender.
Tal pensar abriu caminho para um viés litúrgico diferenciado da anteriormente praticada. As línguas africanas marcavam a pauta identitária, ao passo que os pais teólogos africanos se empenhavam em uma elaboração teológica mais perceptível e compreensível para o africano.       
Desta forma, duas ramificações surgiram: A teologia pastoral vs teologia académica, (aqueles que se preocupavam em trazer um pensamento teológico diferenciado, com maior rigor cientifico e elaboração teológica). Tal situação permanece até hoje, como se tivéssemos parado no Tempo, uma vez que muita das aspirações seja na parte católica quanto Protestante dos nossos padres e pastores, é o de receber apenas a consagração pastoral. Após a obtenção de uma licenciatura ou doutoramento raramente estão interessados a dedicar-se a área “cientifica” a emergir nas pesquisas cientificas.
O concilio do vaticano II, devido aos relatos que chegavam, quer dos padres estrangeiros no continente africano como dos próprios padres nativos, sobre a necessidade urgente de pensar a fé e o cristianismo a partir do olhar do africano, serviu de aval para poder-se ir a frente com as ideias de uma pluralidade teológica. Já o protestantismo, fazia o apelo a uma Teologia africana. Neste grupo numa primeira fase surge Bengt Sundkler no seu estudo o Ministério Cristão em África publicado em 1960. Todavia a maior inspiração desta corrente, dá-se com os encontros e consultas encabeçadas pela AACC, com o objetivo de uma personalização da igreja em África. Para alcançar tal fim, seria então necessário pensamento teológico próprio fazendo Justiça a cultura africana. Varias conferencias foram realizadas até que em 1969 as igrejas Católicas e Protestantes convergiram rumo ao reconhecimento da necessidade de uma Teologia africana, e a consequente autoafirmação da igreja de cristo em África. Tendo sempre o cuidado de não cair no Sincretismo, para tal “Cristo deve ser o centro desta Teologia".  
Os teólogos africanos, quer pastorais quanto académicos, precisam entender que ambos existem para posicionar-se a serviço do reino em favor da igreja de Cristo.    
Portanto, não se pode cometer o erro de entender a Teologia como algo rígido, ou uma camisa de força, mas sim como um projeto dinâmico, vivo, libertador, um impulso ontológico inicial, um "lançamento no ser", cujas diretrizes fundamentais são dadas precisamente pelo ato criador de Deus, que, no entanto, requer a complementação pelo agir livre e responsável do ser humano. Pois o Nzambi (Aquele que por excelência fala) não faz distinção nenhuma nem acepção de ninguém, pelo contrario, tem prazer em se comunicar uma vez que tudo começa pela palavra, para que, aquilo que não existia viesse a existência e com ele o conhecimento (revelação) e na sua misteriosa graça fez-se, faz-se e continuará a fazer-se compreensível a sua Criação.  

(Emiliano Jamba)

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