ALGUMAS PERSPETIVAS TEOLÓGICAS A RESPEITO DA FRAGILIDADE DAS RELAÇÕES HUMANAS

 Para pensar e construir algumas perspetivas teológicas, partimos do sentido etimológico da palavra teologia, que significa ou aponta para o “saber de Deus”. Saber esse que também é visível nas relações humanas. Estas devem ser pautadas no amor, respeito pelo outro, independente de quem for o indivíduo. O compromisso da igreja como comunidade do Reino é anunciar e sinalizar o Reino em vários aspetos do humano, fazendo com que os indivíduos enxerguem a nova vida em Deus como um dom e que precisam valorizar e cuidar para que ela aconteça.
O conceito de graça, em Leonardo Boff, é interessante para pensarmos em uma perspetiva teológica das relações humanas, entendendo que a graça de Deus conduz o perfeito amor para a reconciliação entre Ele e a humanidade perdida. Essa graça, por sua vez, aponta para o amor e a presença de Deus no meio do seu povo.
Segundo Boff "Graça é sempre encontro, na extrapolação de Deus, que se dá e do homem que se dá. Graça é, por natureza, o rompimento dos mundos fechados sobre si mesmos. Graça é relação, é êxodo, é comunhão, é encontro, é dialogo, é abertura, é saída, é história de duas liberdades e encruzilhada de dois amores”. (BOFF, 1977, p. 15).
A estrutura ontológica do ser humano gratificante e planificadora é constituída pela fé, esperança e o amor, que também é experimentada na vivência psicológica. O que faz com que o Ser humano não tenha apenas uma só abertura, mas que o torna um ser que se relaciona com os demais e que participa e partilha com outros seres humanos, tornando assim visível uma relação com o outro. Deste modo, ele faz história construindo vida a partir da comunhão e da relação que ele estabelece.
Quanto a isso vai dizer Boff "O amor consiste nesta capacidade originária de se comunicar em liberdade a um diferente; de acolher um diferente dentro de si, e de comprometer-se definitivamente com alguém. O amor assim compreendido é um existencial no homem uma estrutura ontológica". (BOFF, 1977, p. 200).
Em outros aspetos, faz-se necessário que o ser humano se enxergue como um ser criado por Deus e que convive e partilha com outros seres que o rodeiam, criados também pelo mesmo Deus. Aquele que é o autor da vida, da Terra e tudo que nela existe.
A contemplação e amor à criação, desperta no humano o desejo da reconciliação com o próximo, isto é, nos aspetos de relacionamento, tornando assim uma vivência que prioriza o amor, independente das limitações e diferenças de cada indivíduo. “A criação ensina a pessoa a se entender como criatura, de modo a dar conta de sua limitação e se entender como agraciada e exigida” (BULTMANN, 2001, p. 2013).
A partir de Jesus, por meio de seu amor à humanidade, foi confiada também à igreja o ministério da reconciliação que começou com o Cristo: “Mas todas as coisas procedem de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos confiou o mistério da reconciliação” (2 Coríntios 5.18s).
Neste sentido, frente aos problemas sociais como a fragilidade das relações, no amor ao próximo, notaremos também a ação e o papel da igreja como aquela que vem para anunciar as boas novas do Reino de Deus, boas novas que transformam e trazem de volta a vida do ser que havia se perdido. Ou seja, a igreja só é compreendida em sua palavra face ao anúncio do evangelho, mediante a realidade existente e o que ela anuncia aos outros.
 (Carlos Sampaio)

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